De Sócios a Parceiros: Como o Alinhamento de Valores e Expectativas Constrói Negócios de Sucesso
No dia em que decidi empreender, no ano de 2015, minha primeira ação foi me aprofundar no assunto. Comecei com os livros mais comuns: “Startup Enxuta“ e “O Poder do Hábito”. Aproveitei que estava no último semestre da faculdade e me inscrevi em um curso de empreendedorismo digital.
Lá, encontrei o Murilo, um amigo meu, que havia recém criado o Projeto Ruas e comentei que estava querendo empreender. Ele me apresentou um conhecido que tinha uma ideia parecida e mesmo sem saber nada de empreendedorismo, viramos sócios em três horas. Hoje acho isso absurdo, mas na época parecia uma ótima ideia.
Nos primeiros seis meses, o negócio só patinava. Participamos de vários programas de aceleração e mentoria e, aos poucos, as coisas começaram a andar, e o negócio finalmente começou a dar algum retorno. Eu estava inscrita no mestrado, mas larguei tudo e decidi: “Vou com tudo, agora é a hora!”
Só que, nesse momento, meu sócio começou a segurar o ritmo, dizendo que estava rápido demais e que queria algo menor, enquanto eu queria crescer em escala. Foi aí que entendi que nossas visões e expectativas eram totalmente diferentes.
Depois de um ano juntos, nosso conflito de valores ficou insustentável, e acabei saindo da empresa bem frustrada, pensando que talvez empreender não fosse para mim. Sem o mestrado e sem saber o que fazer, foi um período difícil.
Lembro disso agora porque, recentemente, uma amiga encontrou esse meu ex-sócio na PUC, onde nos conhecemos. Oito anos depois, ele continua no mesmo lugar, e está tudo bem. Cada um escolhe o que é melhor para si. Mas percebi que não poderia ser sócia de alguém cuja ambição era não sair do lugar, enquanto eu queria explorar o máximo possível — e é isso que faço hoje.
Foi então que meu segundo sócio me chamou para empreender de novo e me disse: “Ju, eu vi você ralando por um ano e isso me motivou muito. Sempre quis empreender, já estudo sobre isso há dois anos. Vamos nessa?” E assim nasceu a Workay, um negócio que deu muito certo até a pandemia.
Dessa vez, porém, fizemos o que chamo de “Alinhamento de Expectativas entre Sócios”, algo que eu não tinha feito antes. Sentamos e conversamos sobre o tamanho da empresa que queríamos, metas de faturamento, riscos que estávamos dispostos a correr e até planos pessoais, como ter filhos e o tempo que cada um poderia investir no negócio.
Essa conversa mudou tudo. Descobrimos, por exemplo, que eu estava disposta a trabalhar 80 horas por semana, enquanto alguns sócios não estavam. Um acabou saindo logo no início, e quase fomos parar na justiça.
Aliás, o principal motivo para as empresas quebrarem não é um produto ruim ou má gestão, mas sim conflitos entre sócios. É essencial alinhar expectativas desde o início. Com meus sócios atuais, por exemplo, temos um acordo de reinvestir o lucro nos próximos 10 anos, sem previsão de retirada. Se alguém tivesse uma expectativa de lucro a curto prazo, certamente isso causaria problemas.
Se você tem sócios, sugiro que tenha essa conversa agora. Descubra as ambições, planos e limites de cada um. É muito melhor resolver essas questões hoje do que descobrir, no meio do caminho, que os sonhos e valores de vocês não batem.